Ele morava no terceiro andar daquelas moradias de tijolos e
janelas largas
Era assim que gostava de imaginar
A vista dava para o parque central, onde o mundo acontecia
Mas ele não
Assistia a todos os filmes daqueles que se aventuravam por
aí
Mas estava preso a seus pensamentos
Acreditava que sempre havia uma mulher para salvá-lo da
última
Ou melhor: alguém que lhe tomasse o dinheiro e vendesse
companhia
“Aquelas notas de cem compram amor verdadeiro” é o que
sempre dizia
Sua cabeça se concentrava nos clipes que nunca fez
Nas músicas que nunca compôs
Nas vidas que nunca viveu
Só tinha uma certeza: não se chega às nuvens com os pés no
chão.
O que restava saber é se morreria antes disso tudo...
Foi-lhe dito: “isso daria um conto”
Mas ele nunca escreveu.