terça-feira, 29 de maio de 2018

Unchained Melody IV

Você acorda para um novo dia
e percebe que o peso continua o mesmo
Já faz um bom tempo que as coisas estão assim
Esse sentir e pesar e doer e se arrastar
em direção ao que não conheço ainda
Vai ver é saudade
de tudo aquilo que não
vi(vi)

É assim que caminha a dor?
Um segundo menor a cada verso?

Acredito
Afinal, é o que me restou

Até que ela se torne uma memória velha e distante
mas que resista (como um pássaro)
pois viver é melhor do que ser feliz

"E essa é a única boa luta
que
existe".

Unchained Melody III

"Você é todas as dores que consegue suportar"
disseram-me uma vez
talvez.
e, talvez, a tristeza seja um vício
e isso faz com que todos os poetas sejam canibais

Qual é o preço para você sair do meu caminho?
Qual é o preço em trilhar o caminho menos percorrido?
Qual é a dor?

Você sente tudo o que construiu escapar pelos dedos
dia após dia

No rádio
um antigo compositor diz:
"Vida, pisa devagar"

E assim espero
de novo
de novo
e de novo

Enquanto houver modo de dizer não
eu canto
escrevo
tento.

Unchained Melody II

Seis da manhã. O seu corpo se arrasta para um novo dia.
Você pega a sua xícara e vai até a janela.
"A vida é diferente no oitavo andar".
Você fita os transeuntes
Algo lá fora te lembra de que a
sua coleção de esperanças e desejos
antigos
ainda está por aí.
O mundo acontece
você
não.
Eis o meu medo: abrir a porta que dá
para o sertão da
minha
solidão.
Não sentir a poesia
que não salva o mundo,
mas salva um minuto.
Isso costumava ser o suficiente.
.
.
.
Eu vi a minha morte
ela me aterroriza.

E a sua?

Unchained Melody I

"Eu não moro mais em mim"
é o que costumávamos dizer
até que o fardo de ser
fiel
ao próprio espírito
me mostrou que a nossa história
não passa de uma bobagem
Um ferida
no tempo
no corpo
na memória
Mas a verdade é que, de vez em quando,
só as feridas nos lembram de que estamos vivos
Agora sei que uma casa não faz um lar
Olho-me no espelho
meus olhos já não carregam as luas de antigamente
mas me revelam algo:
você jamais será
a saudade mais bonita
que carrego


Baile de máscaras

"Desfaça o laço, tire a máscara".
Mas existem tantas...
Você é irmão. É filho. É neto. É aluno.
É amante.
É pai.
Aprendeu cedo que um homem nunca é o mesmo
quando vai de um cômodo para outro.
Fica fácil perceber como é que você perdeu sua sombra
e como nenhuma dessas versões de si mesmo é capaz
de te proteger dos escombros.
Você olha o relógio e é hora de ir embora
Não das suas máscaras, mas do baile
Era só uma dança
até perceber que se tratava da sua vida inteira
Sinto-falta-quero-voltar
para
mim.