quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Versus crus sobre andarilhos e seus olhares

Quatro horas da tarde
Numa dessas esquinas com bares e cigarros
Com olhos
Olhos que vasculham bebidas
Olhos que vasculham mulheres
Olhos que vasculham o tempo – corre, corre, corre (mas não por chuva)
E os olhos daquele homem
Que vasculhava as riquezas que tratamos como lixo
Resto
Bagaço

Talvez ele sonhasse
Naquela tarde certamente sonhava com laranjas
Daquelas que a padaria havia acabado de descartar
Seus olhos pareciam tão grandes quando se aproximou daqueles pedaços...

Foi passar, esbarrou e me pediu desculpas
Foi-se embora
Foi tranquilo
Levava consigo uma mala de rodas
Mas além desse poema, também me deixou uma pergunta:


Qual é a chance do mundo ter que pedir desculpas à ele?

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Vestido de preto, esbraveja que tempo é tudo o que somos

Nas tardes de quarta-feira
Ele ia procurar a paz num banco de praça
Nas tardes de quarta-feira
Daquelas secas e podres
Ele ia procurar outras vidas
Outros remorsos
Imaginar a dor

Se alimentar.

Era um homem como qualquer outro
Daqueles que o tempo moldou e destruiu
Daqueles que sempre sentiam saudades
De dinheiro, mulheres, bebidas
Ou, quando já exaustos de tudo
Sem opção alguma
Saudades do tempo em que não sentiam saudades

A maioria só aprende pela dor
Ele já não era ninguém
“O demônio me tirou tudo”
As menores cicatrizes estavam em sua pele

As maiores... Você sabe onde encontrar.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Carece de título (e não só disso).

Decidi que ia escrever sobre raiva
Sobre dor e insatisfação
Decidi que ia escrever sobre como é chegar vazio numa sexta-feira também sem nada

O assunto já estava na ponta da língua
Ou melhor, guardei o gosto azedo na boca
Afinal, bebi saudades e indiferença pela semana inteira

Esse é um daqueles textos
Que saem de uma vez só
Você despeja toda a frustração
É o pior texto possível quando não se fala de coisas boas e bonitas

Bukowski diria que essa é a essência de um escritor
Se quiser se tornar um então escreva desse jeito mesmo
As bibliotecas e fileiras de livros não irão se sentir enjoadas com pensamentos assim.

Se ele sentisse isso ele tomaria um porre
O velho sabia das coisas...

O título era pra ser alguma daquelas coisas grandes
Algo como “indiferença, conselhos de um velho e vazio”
Qualquer coisa que expressasse tudo numa angústia só
E essa angústia tem nome.

Acreditava que estar triste era estar perdido
Descobri que na verdade é um caminho
Ah, que crueldade concluir isso...

Aprende-se de tudo nessa vida
Menos a perder


(E se tiver que implorar por fala ou atenção, eu prefiro ficar calado)

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Sobre olhos, relações epistolares e todas aquelas coisas sinestésicas que se diz no silêncio.

Porque qualquer título me foge quando ela me vem à cabeça

Vida ou outra se encontra alguém com olhos incríveis
Que saem por aí a procura de tudo
Vida ou outra se encontra alguém com aquele jeito inesquecível de deslizar os dedos pelo cabelo, sabe?
Quero dizer... Não sabe.
Eu não sabia até então.

Se busquei pelo sorriso no olhar
Saiba que estive o tempo todo enganado

Me disseram uma vez
“é difícil para um homem apostar todas as fichas numa mulher”
Mas pelo olhar já dá pra saber se vale a pena...

Das coisas bonitas que demorei pra conhecer

Ela é a mais.

domingo, 10 de agosto de 2014

O mundo anda tão complicado

[recortes de tudo aquilo que eu diria a um amigo]

Não podemos pedir desculpas por palavras que tocam o amor e o respeito
Quando só nos resta trauma e degeneração
Chore porque dói, mas não se esqueça de que tudo passa.

A verdadeira tortura é morrer de saudades e continuar vivendo
Os que foram moldados em dor só sabem se alimentar dela
Nenhum deles pretende acordar
Esperam por uma última canção que os tranque
Que os liberte

isso é o que torna todo poeta um canibal

Suas lágrimas ecoam como nenhuma outra
Sou todas as dores que posso suportar
Mas verdadeira maldade é esconder o teu sorriso.

O que há de mais belo você ensinou: é só por hoje.

Sobre amarras e pensamentos incendiários ou irreversíveis

Quando parava pra pensar
Era inevitável que o caminho de volta ficava mais triste

Depois de despejar todas as lágrimas do mundo
Ainda conseguia grunhir (ou uivar) em algum canto: seco, morto não.

Queria alguém que lhe ajudasse a berrar as palavras
Alguém que parasse pra ouvir o que ele parava pra dizer

Poucos entendiam
Porque a maioria era disciplinada
Pensavam o que era preciso pensar
Pensavam o que era permitido pensar

Mas eu, ele, ela e aquela conseguimos tirar os anéis

Antes que os dedos caíssem

sábado, 9 de agosto de 2014

Uma volta na praça falando sobre a geração que roubei pra mim

Em volta do coreto , dizia ela, num daqueles com rachaduras e tudo mais, sentam-se velhos
Com suas camisas amassadas e fechadas até o último botão, de vez em quando com lenços
Reclamam do tempo
Reclamam do dia
Reclamam de dores
Reclamam de política
Reclamam de outros velhos

Pensam também, dizia ele
Sempre o fazem
“- Aquele cretino do Herzog não sabia o que falava.
- Cretino mesmo é o Kerouac: nos comprou e encheu de sonhos.
- Mas se encheu de sonhos então não é tão cretino assim.”

Alguns voltavam pra casa
Iam amolar suas ferramentas, amolar suas mulheres, amolar a si mesmos

Por um breve instante ela pensou em perguntar se ele era um desses
No fundo ela já sabia a resposta

“Há coisas bonitas para serem ditas
Mas só para quem quer ouvir” ela concluiu

Ele apenas afirmou.


Vai-se um velho e leva consigo uma biblioteca.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Buk?

Eles roubariam tudo se fosse dada a chance
As palavras canções olhos decepções e madrugadas.
Não porque os agradava
Não porque seria útil
Só porque não era deles

Esse velho já disse uma vez: “estou oficialmente em guerra contra vocês”. Depois disso vieram os cigarros e a bebida
Era o que ele fazia de melhor nos intervalos que não estava com mulheres

Até eu roubei um pouco.
Por inteiro talvez roubei um pássaro azul.
Mas ainda tenho uns trocados: ambos não queremos flores em nossos caixões.


Toma, coloca sobre a tua miséria se o agrada.

Exit

A vida engole vivo – diziam – o passivo, pacífico e inofensivo.
Seja o juiz da sua vida. Tudo é uma questão de óleo e água.
Não batam à porta com flores: sempre é tarde demais.

até mesmo para as mãos do amor?

Querem o título, querem resposta

No final o que buscamos são as afirmações
Não querem mais saber das perguntas
Agarram e se protegem – pedras.
“Fazer como eles é tão fácil” dizia ela – ou só pensava?

brusca perda de controle para aqueles que buscam controle

[ecoa]
involuntário ... ... ...

Quantas formas você já teve?  Conheci na passada, te amarei na outra?
Vai ver amar é pra sempre.

Caem os reis, caem as rainhas
Rolam. Ou giram, a fortuna é que escolhe...

O Arcano sem nome...

Tem vez que uma carta de tarot é só uma carta de tarot.

Um daqueles

Não há nada de novo sob o sol
O progresso está vestido de retrocesso
Seus olhos observam bares e bordéis
(cardápio?
eles, comida
uns, amor
ninguém se saciava)
Ele deu um passo à frente: deixou algumas coisas para trás.
Mas é assim que todo passo acontece, não?
...
Quando se deu conta, o bar fechou.
Encostou o dedo nos lábios: queria um gole, mas já não era tempo.
Pagou a conta, ajustou o relógio, abotoou o terno. Jogou fora o cigarro como qualquer bom cidadão.
Levantou-se e foi embora.

Cadê toda aquela sensibilidade?
No caminho de volta para casa viu que era igual a qualquer um.


terça-feira, 5 de agosto de 2014

Natureza selvagem...

Ele se despediu das construções
Imposições
Pessoas construídas em caixões – elas não saberiam sair dali mesmo.
Não ouviram mais notícias
Nem dias semanas meses depois.

- Morreu?
- Vai ver viveu.


Foi procurar o que não se encontra mais nos olhos das pessoas...

O Velho

Há pessoas que ensaiam gestos
Eu ensaio letras
Mas ele... Ele não ensaiava nada.
Suas palavras saiam lentas, frágeis e ingênuas de sua boca
Recheadas por um humor amargo que ele nem fazia ideia
Aquela figura me conquistava, descobria nele o que ele nunca se daria conta
E era bom que não desse
Inocência que não se perde
Riso de orelha a orelha quando a TV o lembrava de seu passado
Felicidade contagiante, não se encontra tantas vezes assim na vida
Espécie rara... Essa ele pertence.

Encontrei-me neste lobo solitário
Sempre fomos assim, só não percebemos.
E ele não vai notar
“Não orna”, não é?

taciturno... o que se passava ali?

[...]

Uns goles de café.

“Mas vem, Ni, tá passando Mazzaropi”.

Antecipação/Szeretlek?

Ninguém ensaia a derrota, mas certas decepções valem todo o álcool que vem depois.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

C'est Moi

Caminho pelo lado selvagem, mas evito tudo que me causa algum mal: depois de duas ou cinco vezes. Me encanto por mentiras sinceras, me apaixono pelo trejeito. Estou livre para você - mas só por alguns segundos.  Os sóbrios estão mentindo e por isso me comporto à mesa. Ando com lobos, aprendo a uivar: pago o troco antes do que você imagina. Carrego comigo o cuidado com as palavras e os gestos de uma serpente. Não culpo o vento pois não esqueço a janela aberta. Não sobrar nada para morrer me causa medo, uma mera empulhação é um pesadelo. Procuro algo que amo e deixo ser corroído, mastigado, consumido.  Conservar a distância é uma arte. Os que não sabem de nada foram tocados pelos anjos. Devo muitas desculpas, sinto que não sinto. Os dias me lembram que ódio vale a pena, os dias me lembram que um inimigo é maior que um amigo. O passado nunca esquece o futuro, mas me perco no presente. Atroz, azedo, amargo, áspero: a vida ser apenas um dia me faz voar por caminhos bonitos. Teu espírito alegra minha mente.

Já que nos conhecemos um pouco mais, porque não vem aqui e faz com que eu me sinta vivo?

[...]