quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Testamento

Sonhei sonhos de pedra: duros e incapazes de apaziguar a minha mente.

Acreditava ser capaz de demonstrar às pessoas o quanto elas significam para mim. E errei novamente. Farei diferente no tempo que me resta.

Algumas semanas? Talvez. Sinto minha morte tão próxima... Mas deixarei para falar dela em outro momento — ou então não falarei nunca. Ocupei muito de minha mente pensando no meu próprio fim.

A tragédia da minha vida sempre foi a possibilidade de não morrer antes das pessoas que amo. Não queria viver o luto pelo meu avô. Não queria viver o luto do meu amigo. Não quero viver o luto de minha avó.

Meus pensamentos estão em um transe desgovernado há mais de dez anos. Agora sinto-me quase numa infância revelada, nua, uma nostalgia incomum até mesmo para um nostálgico como eu — e que toma conta dos meus sentidos. Perdi parte do meu espírito quando meu avô se foi. Perdi parte da minha história agora que um de meus melhores amigos também deixou este mundo.


Que a magia — do solo que pisamos, desta vida, do que há além — me conceda uma chance de transmitir a vocês aquilo que meus lábios foram letárgicos ou temerosos em dizer: eu te amo.


Eu te amo.

Eu te amo.

Eu te amo.


Que meus mortos descansem em paz.

Estou chegando.

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